O PAPEL DA DOCUMENTAÇÃO NA GESTÃO PATRIMONIAL: UM ESTUDO DE CASO COM ACERVO DE ARTE SOB A TUTELA DO CUCA-UEFS

Artigo apresentado na Feira do Semiárido -  
EIXO: IDENTIDADE REGIONAL E DIVERSIDADE CULTURAL NO SEMIÁRIDO

Gislaine Barbosa Calumbi da Silva[1]
Cristiano Silva Cardoso[2]
Jerffeson Coelho Santana[3]
Julio Firmo Queiroz[4]

Palavras-chave: arte - patrimônio cultural – identidade - museologia



Sobrevivente - AST
Pedro Roberto




INTRODUÇÃO       

O processo de musealização pode ser definido como uma ação voluntária em que um bem da cultura material ou imaterial é revestido de significado e passa a exercer a função de documento a ser preservado. No âmbito dos bens tangíveis recomenda-se inclusive, a adoção de medidas técnicas interventivas na estrutura física das peças e de controle ambiental a fim prolongar a sua vida útil (conservação). Autores como Julião (2006) reforçam que o museu se realiza enquanto instituição interdisciplinar quando atua em três campos distintos, complementares e imprescindíveis ao seu funcionamento: a preservação, a documentação e a comunicação, vez que desde sua gênese moderna e universitária (Basileia–Suíça 1671) esta instituição vem se aprimorando para produzir, processar e transformar informações em conhecimento. O presente trabalho consiste num breve panorama crítico sobre o desenvolvimento de ações teórico-práticas privilegiando a relação entre patrimônio cultural e comunicação museológica, focando atenções ao acervo do Museu Caetano Veloso, composto por 37 obras de arte contemporâneas de artistas baianos, em sua maioria feirenses. O estudo de caso analisa as atividades (balizadas pelo Plano Museológico MRA) desenvolvidas pelo grupo de trabalho do Museu Regional de Arte com este acervo, que originalmente é abrigado no município de Santo Amaro da Purificação, no Solar do Biju sob a tutela do Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA/UEFS), imóvel que no momento passa por reformas.

DESCRIÇÃO DE MATERIAIS E METODOS UTILIZADOS

Num primeiro momento utilizou-se da observação, análise e diagnóstico sobre o estado de conservação das obras, a fim de iniciar o trabalho de conservação preventiva. Dentre os fatores de deterioração foram identificados os seguintes: craquelê (resultante da dilatação e contração da tela, o que provoca um rompimento da camada pictórica), acidificação, excrementos (fezes de insetos), fungos, insetos xilófagos e sujidades impregnadas (poeira, poluentes, teia de aranha, fatores estes que além de atuar no desgaste dos materiais, criam ainda um microclima propício ao desenvolvimento de outros problemas relacionados ao processo de deterioração).Porém, de uma maneira geral o acervo apresenta-se em bom estado de conservação. Identificado estes problemas, iniciamos os procedimentos para a conservação preventiva. Como o maior fator de deterioração encontrado das obras foram sujidades, realizou-se um trabalho de higienização mecânica, num ambiente arejado, utilizando-se de mesas, com máscaras, luvas pincéis de cerdas macias. Neste momento foram preenchidas as fichas de diagnóstico indicando os principais agentes de deterioração presentes em cada obra, bem como as recomendações específicas para cada uma destas.
Cada obra foi embalada e acondicionada na reserva técnica da Galeria Carlo Barbosa (GCB/CUCA).
Após a etapa de conservação foi dado inicio a criação do Sistema Documental do acervo MCV. As obras já possuem termo de doação, numeração de tombo patrimonial da UEFS e inventário em ordem alfabética, publicado no Diário Oficial do Estado da Bahia de 03/12/99. Evidenciou-se, no entanto, a necessidade de avançar neste sistema de controle por meio de pesquisas e construção de uma catalogação museológica que assegure uma adequada gestão deste acervo. Após arrolamento, criou-se um sistema documental com numeração corrida de 001 a 037, antecedido das iniciais da instituição MCV, checagem e ajuste de dados através de pesquisa no acervo, e em fontes primárias e secundárias para elaboração de etiquetas de identificação, fichas descritivas e lançamento no Livro de Tombo. Fechando o ciclo, de posse das informações construídas, foi concebido e aplicado com a participação de equipe multidisciplinar, o projeto curatorial intitulado “Transitando do Recôncavo ao Sertão” em que uma seleção de obras que compõe este acervo foi exposta na Galeria de Arte Carlo Barbosa no período de 01 de novembro a 20 de dezembro de 2012. Foi o momento em que houve um diálogo com o publico escolar feirense, que participou significativamente na leitura e releitura das abordagens trabalhadas no espaço expositivo.

RESULTADOS

No tocante à conservação preventiva do acervo, foi obtido com base nas informações diagnosticadas, as recomendações específicas para o devido acondicionamento das obras no intuito de reduzir os riscos e, consequentemente, aumentar a vida útil dos objetos. Seguindo as recomendações gerais no âmbito dos estudos em conservação do patrimônio, que entende que a diminuição dos riscos de deterioração dos materiais é o modo mais eficaz de aumentar a vida útil dos objetos, adiando com isso a necessidade de recorrer às intervenções diretas feitas pelo processo de restauração.
 Referente à documentação museológica, entende-se que esta é parte fundamental no processo de musealização. É através dela que é possível reunir as informações que embasarão todos os demais trabalhos concernentes ao acervo – pesquisas, exposições, educação patrimonial, oficinas, elaboração de documentos, relatórios, etc. -, isto significa que, entendendo o objeto museal enquanto suportes de informações, a documentação é o campo de ação que dá sentido a preservação. De acordo a Ferrez,

Os objetos museológicos – veículos de informação – têm na conservação e na documentação as bases para a sua transformação em fontes de pesquisa cientifica e de comunicação, e estas, por sua vez, produzem e disseminam novas informações, cumprindo-se o ciclo museológico. (FERREZ, apud Cândido, 2006, p.34)
                
Como já mencionado acima, o acervo do Museu Caetano Veloso já possuía uma documentação formal, coube ao momento iniciar o processo de documentação museológica sistemática atualizada. Foi feito o arrolamento, criou-se as fichas de identificação, o registro no livro de tombo e atualmente este trabalho está seguindo com o preenchimento das fichas de inventário. Esta etapa demanda uma pesquisa mais detalhada, que engloba não apenas as informações intrínsecas sobre o objeto, mas também informações extrínsecas sobre o contexto ao qual este esteve e está inserido, bem como autoria, características estilísticas, procedência, modo de aquisição, histórico de exposições, dentre outros.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A documentação sistemática é um fator imprescindível que servirá como base para as demais atividades no museu. O Plano Museológico do MRA, documento norteador das atividades também na Galeria de Arte Carlo Barbosa e no Museu Caetano Veloso, consiste num planejamento estratégico ao longo de cinco anos, e tem em seu programa de pesquisa o objetivo de democratizar o acesso às informações a partir de:

I. Dar sentido ao processo de preservação do acervo de arte que compõe o Museu;
II. Oferecer suporte a comunicação museológica e as exposições;
III. Contribuir com o setor de educação do MRA;
IV. Servir aos visitantes, aos pesquisadores, a comunidade e demais usuários. (PLANO MUSEOLÓGICO, 2012-2015, MRA, P. 38)

O somatório de informações reunidos acerca do objeto museal potencializa seu valor documental e permite uma abordagem abrangente em variadas temáticas, utilizando este acervo como referência.  


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CÂNDIDO, Maria Inez. Caderno de Diretrizes Museológicas l. Brasília. Ministério da Cultura / Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Departamento de Museus e Centros Culturais, Belo Horizonte: Secretaria do Estado da Cultura/Superintendência de Museus, 2006. 2ª edição.

JULIÃO, Leticia. Caderno de Diretrizes Museológicas l. Brasília. Ministério da Cultura / Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Departamento de Museus e Centros Culturais, Belo Horizonte: Secretaria do Estado da Cultura/Superintendência de Museus, 2006. 2ª edição.

PLANO MUSEOLÓGICO MRA. Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS,. Centro Universitário de Cultura e Arte - CUCA 2012-2015.
                                                                                           




[1] Analista Universitário em Museologia - Museu Regional de Arte/CUCA/UEFS
[2] Analista Universitário em Museologia - Museu Regional de Arte/CUCA/UEFS – (Diretor do MRA)
[3] Graduando em Museologia pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB
[4] Bolsista na modalidade Arte/Cultura – CUCA/MRA. Graduando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS 

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